Para pensar em ti todas as horas fogem:
o tempo humano expira em lágrima e cegueira.
Tudo são praias onde o mar afoga o amor.
Quero a insônia, a vigília, uma clarividência
desse instante que habito - ai, meu domínio triste!,
ilha onde eu mesma nada sei fazer por mim.
Vejo a flor, vejo no ar a mensagem das nuvens
- e na minha memória és imortalidade -
vejo as datas, escuto o próprio coração.
E depois o silêncio. E teus olhos abertos
nos meus fechados. E esta ausência em minha boca:
pois bem sei que falar é o mesmo que morrer.
Da vida à Vida, suspensas fugas.
Cecília Meireles
(1901-1964)
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