31/10/2010

Recordo ainda


Recordo ainda... e nada mais me importa...
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta...

Mas veio um vento de Desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança...

Estrada afora após segui... Mas, aí,
Embora idade e senso eu aparente
Não vos iludais o velho que aqui vai:

Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino... acreditai!...
Que envelheceu, um dia, de repente!...

Mario Quintana

30/10/2010

Num dia azul e manso

Como às vezes num dia azul e manso
No vivo verde da planície calma
Duma súbita nuvem o avanço
Assim agora em minha pávida alma
Que súbito se evola e arrefece
A memória dos mortos aparece...

Fernando Pessoa

29/10/2010

Meu Coração

Meu Coração


Meu coração é como a noite escura,

Cercada só de dores adormidas,

É como um negro túmulo vazio

Onde repousam esperanças idas.

Meu coração é como a folha murcha

Que o vento frio desligou da flor,

É como um'ave que se vê sozinha

Sem lar, sem pão, sem vida e sem amor.

Meu coração é como a nota triste

Que se evola dos sinos magoados,

Quando da Igreja nas serenas torres

A gemer, a gemer dobram finados.

Meu coração é como a nuvem negra

Que cobre a terra nas manhãs geladas,

É uma pálida andorinha morta

Num leito frio de ilusões passadas.



Auta de Souza

Do livro: "Vida Breve de Auta de Souza 1876 - 1901",
Livraria Teixeira Lomelino & Silva Ltda.,1961

28/10/2010

A sabedoria dos clássicos

"Estimulado por Renato Ferreira, meu colega da FGV de São Paulo e um dos grandes professores da nova geração, tenho me dedicado a ler livros de contos e poesias na busca de explicações mais amplas para os grandes dilemas comportamentais que acontecem nas empresas e, principalmente, para poder orientar os profissionais em suas carreiras.

De tempos em tempos, sinto que tenho de interromper a leitura de livros específicos de negócios e procurar na grande literatura uma inspiração mais abrangente. Recomendo que você também faça isso de vez em quando.

Por causa desse hábito não fiquei surpreso quando Manfred de Vries, professor do Insead, escola francesa de negócios, que esteve aqui em São Paulo recentemente, disse em sua palestra: "Tudo o que você quiser saber sobre liderança está nas obras de Shakespeare". Na FGV, Renato Ferreira trabalha conceitos de liderança usando trechos do filme Henrique V, baseado na obra do autor inglês.

A melhor orientação profissional se encontra na literatura

Falando de Shakespeare, eu gosto de uma frase dele: "Que tuas palavras ilustrem teu comportamento e teu comportamento, tuas palavras". Nessa minha busca de inspiração, um colega de colégio e de engenharia, Bruno Concone, me recomendou a obra de Mario Benedetti, um dos maiores escritores uruguaios, que morreu no ano passado, aos 78 anos, e publicou muitos contos e poesias. Num trecho maravilhoso ele diz: "Impossível ganhar sem saber perder / impossível andar sem saber cair / impossível acertar sem saber errar / impossível viver sem saber reviver". É isso.

É assim que se constrói uma carreira. São esses simples ensinamentos cheios de sabedoria, presentes nos bons livros, que servem de orientação em qualquer momento. E o que mais me chama a atenção é o fato de saber reviver, é saber contar sua história, é saber falar de sua biografia, orgulhando-se dos seus feitos, marcando suas realizações, mas sabendo que, para ganhar algumas vezes, você perdeu e que, na tentativa de acertar algumas vezes, você cometeu erros. Lembre-se sempre disso. E boa leitura."


Luiz Carlos Cabrera é professor da Eaesp-FGV, diretor da Amrop Panelli Motta Cabrera e membro do Advisory Board da Amrop International.






As nuvens são sombrias

As nuvens são sombrias
Mas, nos lados do sul,
Um bocado do céu
É tristemente azul.

Assim, no pensamento,
Sem haver solução,
Há um bocado que lembra
Que existe coração.

E esse bocado é que é
A verdade que está
A ser beleza eterna
Para além do que há.

Fernando Pessoa

27/10/2010

Revelação

Revelação
Composição: Clodô e Clésio

*

Um dia vestido

De saudade viva

Faz ressuscitar:

Casas mal vividas,

Camas repartidas,

Faz-se revelar.

Quando a gente tenta,

De toda maneira,

Dele se guardar,

Sentimento ilhado,
Morto, amordaçado,
Volta a incomodar.

26/10/2010

Perdi os meus fantásticos castelos

Perdi os meus fantásticos castelos
Como névoa distante que se esfuma...
Quis vencer, quis lutar, quis defendê-los:
Quebrei as minhas lanças uma a uma!
Perdi minhas galeras entre os gelos
Que se afundaram sobre um mar de bruma...
- Tantos escolhos! Quem podia vê-los?-
Deitei-me ao mar e não salvei nenhuma!
Perdi a minha taça, o meu anel,
A minha cota de aço, meu corcel,
Perdi meu elmo de ouro e pedrarias...
Sobem-me aos lábios súplicas estranhas...
Sobre o meu coração pesam montanhas...
Olho assombrada as minhas mãos vazias...

Floberla Espanca
in: A Mensageira das Violetas

24/10/2010

Sob o Sol de Toscana (2003)

Frances Mayes (Diane Lane) é professora e escritora de 35 anos que vive feliz em San Francisco, até que se divorcia de seu marido, Ed. Deprimida, ela ganha de sua amiga Patti (Sandra Oh), uma viagem para a Toscana, para descansar e terminar em paz seu novo livro. Num impulso, decide comprar uma velha casa na região e, enquanto cuida da reforma de sua nova casa, acaba conhecendo um novo homem, que reacende sua paixão.
Direção e roteiro de Audrey Wells, baseado na auto-biografia de Frances Mayes. Produção de Tom Sternberg e Audrey Wells, com música de Christophe Beck e belíssima fotografia de Geoffrey Simpson

Site Oficial: http://tuscansun.movies.go.com

http://www.youtube.com/watch?v=PFDQD0oCqLI&feature=related








Fragilidade


Tu és a força, eu a fragilidade.
Tu tens cérebro, e eu tenho coração...
A tua vida pautas na vontade,
e a minha vida toda é uma ilusão.
 
Tens a lei do trabalho e da igualdade,
exaltas tudo quanto é nobre e são,
e eu fiz a minha gloria da humildade
de viver sob o jugo dessa mão.
 
Tu tens o olhar dominador, profundo,
eu tenho o olhar mais triste que há no mundo,
cheio sempre das sombras do sol-por...
 
Eu e tu. . . Tão diversos! Mas, no entanto,
como é que nos queremos tanto e tanto
se eu sou tão fraca e tu tão forte, amor?


Aracy Dantas de Gusmão, poetisa gaúcha

23/10/2010

Soneto

Encontrei-te. Era o mês... Que importa o mês? Agosto,

Setembro, outubro, maio, abril, janeiro ou março,

Brilhasse o luar que importa? ou fosse o sol já posto,

No teu olhar todo o meu sonho andava esparso.

Que saudades de amor na aurora do teu rosto!

Que horizonte de fé, no olhar tranqüilo e garço!

Nunca mais me lembrei se era no mês de agosto,

Setembro, outubro, abril, maio, janeiro, ou março.

Encontrei-te. Depois... depois tudo se some.
  Desfaz-se teu olhar em nuvens de ouro e poeira.
Era o dia... Que importa o dia, um simples nome?

Ou sábado sem luz, domingo sem conforto,
Segunda, terça ou quarta, ou quinta ou sexta-feira,

Brilhasse o sol que importa? ou fosse o luar já morto?
 
Alphonsus de Guimaraens

(1870 - 1921)

22/10/2010

Neste profundo apartamento

Aqui neste profundo apartamento
Em que, não por lugar, mas mente estou,
No claustro de ser eu, neste momento
Em que me encontro e sinto-me o que vou.

Aqui, agora, rememoro
Quanto de mim deixei de ser
E, inutilmente, [...] choro
O que sou e não pude ter.
.
Fernando Pessoa

Mistério




Há vozes dentro da noite que clamam por mim,

Há vozes nas fontes que gritam meu nome.

Minha alma distende seus ouvidos

E minha memória desce aos abismos escuros

Procurando quem chama.

Há vozes que correm nos ventos clamando por mim.

Há vozes debaixo das pedras que gemem meu nome

E eu olho para as árvores tranquilas

E para as montanhas impassíveis

Procurando quem chama.

Há vozes na boca das rosas cantando meu nome

E as ondas batem nas praias

Deixando exaustas um grito por mim

E meus olhos caem na lembrança do paraíso

Para saber quem chama.

Há vozes nos corpos sem vida,

Há vozes no meu caminhar,

Há vozes no sono de meus filhos

E meu pensamento como um relâmpago risca

O limite da minha existência

Na ânsia de saber quem grita.
***
Adalgisa Nery



20/10/2010

O óleo de Lorenzo (1992)



Esta é a história real, comovente e corajosa de Lorenzo Odone, umm garoto que levava uma vida normal até que, aos seis anos, passou a ter diversos problemas de ordem mental que foram diagnosticados como adrenoleucodistrofia ou ALD, uma doença extremamente rara que provoca uma incurável degeneração no cérebro, cegueira, mudez, paralisia, levando o paciente à morte em no máximo dois anos.

Os pais do menino, Augusto Odone (Nick Nolte) e Michaela Odone (Susan Sarandon), não se conformam com o fracasso dos médicos e a falta de medicamento para uma doença desta natureza, e começam a estudar e a pesquisar sozinhos, na esperança de descobrir algo que possa deter o avanço da doença. O reconhecimento dos seus estudos pela comunidade científica e acadêmica resultou no título de Doutor honoris causa por sua imensa contribuição à ciência e à medicina, e o casal fundou “Projeto Mielina”, uma fundação que tenta concentrar esforços nos estudos das doenças relacionadas à mielina. Para saber mais, acesse www.myelin.org.

Direção de George Miller.


Minha nota: *****

Realidade


Em ti o meu olhar fez-se alvorada

a minha voz fez-se gorgeio de ninho.

E a minha rubra boca apaixonada

Teve a frescura pálida do linho...

Embriagou-me o teu beijo como um vinho.

Fulgo de Espanha,em taça cinzelada...

E a minha cabeleireira desatada

Pôs a teus pés a sombra dum caminho...

Minhas pálpebras são de cor verbena,

Eu tenho os olhos garços, sou morena,

E para te encontrar foi que eu nasci...

Tens sido fora o meu desejo

E agora, que te falo, que te vejo,

Não sei se te encontrei.. Se te perdi...
***
Florbela Espanca

18/10/2010

A falta que você me faz

"A falta que você me faz
é coisa que só eu sei,
só eu sinto,

ninguém mais pode compreender.

A falta que você me faz

é dor em minh'alma,

é sede não saciada,

é alegria perdida,

é morte não digerida,

é lágrima quente no rosto,

é frio no coração,

é noite escura e sombria,

é fumo desvanecido,

é final do caminho

e do futuro que desejei...

o avesso dos meus sonhos.

Para ninguém mais você

é o único amor,

é o abraço especial,

é o beijo sem igual

ou as carícias insubstituíveis.
A falta que você me faz
é coisa só minha, de ninguém mais!


Liz Guides - Março/1977

17/10/2010

O lado fatal (continuação)

XII
Se me tivessem amputado braços e pernas
e furado o coração com frias facas
e cegado meus olhos com ganchos
e esfolado a minha pele como a de um podre bicho
- nada doeria mais
que te saber morto, amado meu,
depositado
nesse irremediável poço de silêncio de onde não
[respondes.(A não ser em sonho, quando me olhas
e tuas mãos tocam as minhas espalmadas,
abertas, feridas, vazias.)
XIII
O meu amado morreu:
preciso viver sua morte até o fim.
Morreu sem que se instalasse entre nós cansaço e
[banalidade.
Talvez tenha morrido na medida certa
para nada se desgastar.
Dele me vem a dor, mas também a ternura,
a claridade que me permite ver
em todos os rostos o seu rosto
em todos os vultos o seu vulto
e ouvir em todos os silêncios
o seu inesperado riso de criança.
XIV
Estranha a vida:
fico tangendo meus dias
como um rebanho de ovelhas desordenadas
nessa triste e fria cidade de Porto Alegre
onde ele gostava de estar
olhando o pôr-do-sol e vendo amigos.
"Morrer é tomar um porre de não-desejo"
dizia o meu amado, que era um homem desejoso:
desejava a vida, desejava a morte, desejava
[a justiça,
desejava a eternidade e a paz.


Estranha a vida:
quando releio uma frase sua,
"viver é modular a morte",
em sangue e dor preparo a minha ida.
Estranho também esse amor,
com hora marcada para a mutilação
da morte, o minuto acertado,
e o fim consultando o relógio
para nos golpear.
Estranho esse amor de agora,
com meu amado atrás de um espelho baço
onde às vezes penso divisar seu vulto
como num aquário.
Enrolado em silêncio,
mais que nunca o meu amor comanda a minha vida.
XV
Não falem alto comigo:
andem sempre na ponta dos pés.
Principalmente, não me toquem.
Finjam que não vêem se tenho um jeito absorto
se nem sempre entendo as perguntas
com a rapidez de antigamente,
se pareço fatigada
e sem graça como nunca fui.


Façam silêncio ao meu redor.
Não me interessa nada o cotidiano nem o místico.
Não quero discutir o preço do mercado
nem os grandes mistérios da eternidade.
XVI
Levo meu amado no peito
como quem carrega nos braços para sempre
uma criança morta.
XVII
Amado meu, que tanto ensinaste
de mim a mim mesma, e do mundo
a quem o conhecia pouco:
quando se desfizer escura a noite desta perda,
quero enxergar pelos teus olhos,
amar através do teu amor
as coisas que me restaram.
Amado meu, vivo em mim para sempre,
apesar da ruga a mais
e do olhar mais triste,
devo-te isto:
voltar a amar a vida
como agora amas, inteiramente,
a tua morte.
***
Lya Luft

O texto  foi extraído do livro O Lado Fatal, Editora Siciliano
 São Paulo, 1988.

16/10/2010

O lado fatal

I
Quando meu amado morreu, não pude acreditar:


andei pelo quarto sozinha repetindo baixo:


"Não acredito, não acredito."


Beijei sua boca ainda morna,


acarinhei seu cabelo crespo,


tirei sua pesada aliança de prata com meu nome


e botei no dedo.


Ficou larga demais, mas mesmo assim eu uso.


II

Muita gente veio e se foi.


Olharam, me abraçaram, choraram,


todos com ar de incrédula orfandade.


III
Aquele de quem hoje falam e escrevem


(ou aos poucos vão-se esquecendo)


é muito menos do que este, deitado em meu coração,


meu amante e meu menino ainda.


VI
Deus


(ou foi a Morte?)


golpeou com sua pesada foice


o coração do meu amado


(não se vê a ferida, mas rasgou o meu também).


Ele abriu os olhos, com ar deslumbrado,


disse bem alto meu nome no quarto de hospital,


e partiu.


Quando se foram também os médicos e sua máquinas inúteis,


ficamos sós: a Morte (ou foi Deus?)


o meu amado e eu.


Enterrei o rosto na curva do seu ombro


como sempre fazia,


disse as palavras de amor que costumávamos trocar.


O silêncio dele era absoluto: seu coração emudecido


e o meu, varados por essa dourada foice.


Por onde vou deixo o rastro de um sangue denso e triste


que não estancará jamais.


VInsensato eu estar aqui, e viva.


O rosto dele me contempla


vincado e triste no retrato sobre minha mesa;


em outros, sorri para mim, apaixonado e feliz


Insensato, isso de sobreviver:


mas cá estou, na aparência inteira.


Vou à janela esperando que ele apareça


e me acene com aquele seu gesto largo e generoso,


que ao acordar esteja ao meu lado


e que ao telefone seja sempre a sua voz.


Sei e não sei que tudo isso é impossível,


que a morte é um abismo sem pontes


(ao menos por algum tempo).


Sobrevivo, mas pela insensatez.


VII
Pensei que estávamos apenas no começo:


a casa mal-e-mal nos alicerces.


Mas provavelmente estava concluída


e eu não sabia.


Tínhamos erguido em nossos poucos anos


as paredes necessárias;


o telhado se inclinava ao jeito certo,


e havia vidraças nas janelas.


(Éramos felizes ali dentro


mesmo com as tempestades de fora.)


Tudo se construiu num lapso tão curto:


até a porta de entrada, por onde ele saiu


casualmente como quem vai comprar jornal.A porta está apenas encostada


embora pareça alta, dura, intransponível:


do lado de lá, o meu amor vê as maravilhas


que tanto nos intrigavam nesta vida.


VII
Tanto escrevi sobre a morte


em livros e poemas nesses anos:


sempre achei que a entendia um pouco.


Mas agora que ela me dilacerou a vida,


me rasgou o peito,


me levou o amado,


sinto que mal começo a compreender


sua mensagem:


tirando-o de mim, a morte o devolve


para que seja mais meu.


Dentro de mim um quebra-cabeças, e nele


[o meu amado.


Nem Deus o tirará daqui.


VIII
O meu amado morreu:


viver sem ele, como dói.


Não tivemos filhos juntos,


nosso passado foi tão breve que era sempre


[presente.


Um dia ele mandou fazer um par de alianças


de pesada prata, parecendo antigas;


gravou apenas nossos nomes, sem data, e disse:


"Somos um só desde sempre."


Ainda não acreditei em sua morte,


e talvez isso me salve por enquanto.


Levantar-me da cama cada dia é um ato heróico,


acender o cigarro, atender o telefone, tomar café.


Mas faço tudo isso:


falo, ando, recebo visitas.


Compro móveis para a casa onde moro sem ele,


imaginando: será que ele vai gostar?


De algum secreto lugar me vem a força


para erguer a xícara, acender o cigarro,


até sorrir quando alguém me diz:


"Você hoje está com a cara ótima",


quando penso se não doeria menos


jogar-me de um décimo-primeiro andar.


XIX
Amado meu, agora morto,


postado do lado de lá da fronteira que nos seduzia,


mudo e quedo como se não existisses:


eu sei que existes,


intensamente, ardentemente existes,


feito e desfeito no fogo de um amor maior que


[o nosso


mas que nos abrange.


Amado meu, morto agora e para sempre vivo,


hás de ter ainda o intenso olhar que me entendia,


as curvas amorosas da boca que chamou meu nome,


as belas, inquietas mãos que ardiam nas minhas.


ajuda-me agora, silencioso que estás,


a suportar a sobrevida


e a decifrar esse alto, intransponível muro que me


[cerca.


X
Nunca tivemos filhos juntos, e ele reclamava:


"Nosso amor merecia um filho ao menos.


"Nosso filho é a minha dor de hoje,


é a fulguração que nos deixava tontos,


é o novelo da memória que teço e reteço


nas minhas insônias.


Nosso filho é o meu tempo de agora


para falar do meu amado:


da sua força e sua fragilidade,


da sua indignação e seus prantos,


da sua necessidade de ser amado e aceito


como finalmente deve estar sendo, por inteiro,


na realização de todos os seus vastos desejos.


XI
O meu amor enveredou por sua morte


como quem vai a um encontro de amor:


impaciente.


Deixou-me este coração golpeado,


esta derrota.


Mas também ficou a claridade desses anos


e a sensação de que ele finalmente


vive o encontro de amor


que toda a devoção de minha vida não lhe poderia


[dar.(Um dia, celebraremos juntos.)


Lya Luft
(continua...)

15/10/2010

De Mãos Dadas


Ando na vida de mãos dadas
com a tua lembrança...
- E para que falar em esperança?
Não sei onde me levará esta ansiedade,
ou esta melancolia
cheia de umidade,
a me envolver como uma cerração...
Para a loucura?
Para a felicidade?
Ou para este morrer de cada dia
de quem vai tateando em noite escura...
cego do coração?
Que fazer? Ando na vida
como quem anda
- perdido, andando em vão...
Ando na vida de mãos dadas
com a tua lembrança,
a fazer roda em silêncio... numa triste ciranda
sem canção...
.

J. G. de Araújo Jorge

14/10/2010

Heide (1937)





Shirley Temple interpreta a jovem e decidida heroína da famosa história infantil ''Heid'', do livro de Joahnna Spyri. Quando a tia se cansa de cuidar da menina de cinco anos, ela  é levada para as montanhas da Suíça, para viver com seu mal-humorado avô (Jean Hersholt), um ermitão que acaba se apaixonando por ela. Mas a tia volta para levar Heidi às escondidas e vendê-la a uma família cuja filha inválida (Marcia Mae Jones) precisa de uma companhia. Mesmo perseguida por uma malvada governanta (Mary Nash), Heidi cativa toda a família e nunca pára de tentar voltar para seu amado avô.
Minha nota: ****