" Insônia "
À noite, quando a sós, em meu quarto, me ponho
a pensar no destino que nos quis unir,
não sei se acreditar se isso é verdade ou sonho...
- e fico horas a fio, em luta, sem dormir...
Não devia jamais na vida ter cruzado
meu caminho com o teu, e na alma, alguém me diz:
não terás o teu sonho um dia realizado
porque não poderás com ela ser feliz...
Cruel pressentimento... à noite, quando a sós
estou, na insônia inquieta que me aquece o leito,
é que julgo escutar o poder dessa voz
que vive no meu ser, no âmago do peito...
Tic-tac...Tic-tac...Tic-tac...
É o relógio a pulsar, é a minha solidão
não posso te esquecer, e dentro em mim, bem vejo
há um mundo material nessa paixão
e um pouco de pureza dentro do desejo...
Tic-tac...Tic-tac...Tic-tac...
É o tormenta das noites sem fim
quando ouço passar, segundo por segundo...
Há um relógio também a bater dentro de mim
imitando em meu peito os relógios do mundo...
Tic-tac...Tic-tac...Tic-tac...
Através a vidraça a manhã vem surgindo,
e a luz vencendo a treva enche o quadro de calma...
Após a noite escura há sempre um dia lindo,
e nunca vi surgir a aurora na minha alma...
( Poema de J. G . de Araujo Jorge
do livro "Meu Céu Interior" - 1934)
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