24/01/2011

Soneto LXXXIX


''Quero quando eu morra tuas mãos em meus olhos:

quero a luz, quero o trigo de tuas mãos amadas

passar uma vez mais sobre mim essa doçura:

sentir tua suavidade que mudou meu destino.

.


Quero que vivas enquanto adormecido,

espero que teus olhos sigam ouvindo o vento,

que sintas o perfume do mar que amamos juntos

e que sigas pisando a areia que pisamos.

.

Quero que o que amo siga vivo e

a ti amei e cantei sobre todas as coisas,

por isso segues florescendo, florida,

.

para que alcances tudo o que meu amor te ordena,

para que passeie minha sombra por teus cabelos,

para que assim conheçam a razão do meu canto''

.

Pablo Neruda

21/01/2011

" Dualismo "



    

Sou a repetição de um velhíssimo drama,
pantomima banal sem princípio e sem fim...
( há de sempre existir na vida de quem ama
um pouco de Pierrot... e um pouco de Arlequim ! )

Como uma ave escondida a cantar numa rama,
trago um poeta que sonha e faz versos por mim,
- a alma cheia de sol !... sigo no entanto assim
como quem traz nos pés sempre um pouco de lama...

Meus olhos são janelas que escancaro ao sonho !
E as mãos, - mesmo nas horas em que a sós componho
São raízes nervosas de desejos vãos...

Existo, - nesse eterno dualismo esquisito:.
- tendo os olhos abertos cheios de infinito!
- e enraizadas na terra, e sujas, as minhas mãos !


( Poema de J. G. de Araujo Jorge - do livro
Eterno Motivo; -  Prêmio Raul de Leoni,
da Academia Carioca de Letras - 1943 )

01/01/2011

Promessas para o ano novo

Nunca fiz lista de promessas para o ano novo, para mim sempre foi mais importante o natal, ano novo era só mudança de calendário e erros na hora de preencher cheques (por isso adoro cartão).  Mas, esta semana, comecei a pensar que talvez fosse a hora de mudar, de uma experiência nova, de parar e pensar no que realmente quero que mude em minha vida. Descobri que tem muitas, muitas coisas para mudar, até mais que eu imaginava. Coisas que me aborrecem, incomodam, atormentam a anos (talvez não só a mim, mas aos outros), e que continuam sempre do mesmo jeito, mudando ou não o calendário.
Então, fiz o inusitado: a minha primeira lista de promessas, mais que promessas, desejos de mudança. Estou com medo, ali tem coisas muito fáceis, como a mudança da cor do cabelo (enjoei da minha cara sempre igual), outras mais complicadas (perder peso, com essa gula toda), parar de deixar que minha autoestima seja influenciada pelo humor e amor dos outros, mas tem coisas muito, muito mais difíceis... porém necessárias, que não podem mais ser adiadas, sob o risco de a morte me pegar na esquina e tudo estar igual.
Vai doer? com certeza, e não só em mim. Mas chegou a hora de não adiar mais.