25/05/2010

Folhas de rosa







Todas as prendas que me deste, um dia,

Guardei-as, meu encanto, quase a medo,

E quando a noite espreita o pôr-do-sol,

Eu vou falar com elas em segredo ...





E falo-lhes d'amores e de ilusões,

Choro e rio com elas, mansamente...

Pouco a pouco o perfume do outrora

Flutua em volta delas, docemente ...


 

Pelo copinho de cristal e prata

Bebo uma saudade estranha e vaga,

Uma saudade imensa e infinita

Que, triste, me deslumbra e m'embriaga



O espelho de prata cinzelada,

A doce oferta que eu amava tanto,

Que reflectia outrora tantos risos,

E agora reflecte apenas pranto,





E o colar de pedras preciosas,

De lágrimas e estrelas constelado,

Resumem em seus brilhos o que tenho

De vago e de feliz no meu passado...





Mas de todas as prendas, a mais rara,

Aquela que mal fala à fantasia,

São as folhas daquela rosa branca

Que a meus pés desfolhaste, aquele dia...

Florbela Espanca

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