31/03/2010

" Para Sempre"

" Para Sempre"



Murmuras: "Para sempre!" ao meu ombro inclinada.

Nossa separação virá, no entanto. É a sorte.

Um de nós, o primeiro, há de encontrar a morte,

e do chorão dormir sob a triste ramada.



Vinte vezes, do cais, já vira a marujada

ao molhe regressar o brigue de alto porte;

mas um dia se fez de rumo para o Norte,

e o Pólo o sepultou sob o gelo. Mais nada.



Vinte anos ao beiral, com a primavera, o bando

de andorinhas volveu, jubiloso, chilrando;

mas o verão chegou, e eu não as vejo mais.



Juras de eterno amor teus doces lábios soltam...

Mas eu penso no adeus dos que vão e não voltam...

Por que a palavra "sempre" em boca de mortais?
******
François Coppée (1824-1908)
Tradução de Antonio Salles.











30/03/2010

" A Felicidade Deste Mundo "

" A Felicidade Deste Mundo "



Ter uma casa limpa, aconchegante e bela,

um florido jardim com canteiros fragrantes,

frutas frescas, bom vinho, e as crianças distantes,

para gozar em paz a fiel presença dela.



Sem dívidas, questões e sem qualquer querela,

herança a repartir, parentes litigantes,

contentar-se com um pouco, evitar intrigantes

e viver com justiça uma vida singela.



Com franqueza jovial, sonhar, sem ambições,

cultivar com prazer as caras devoções,

dominando o desejo e as tentações da sorte,



a alma livre mantendo, o raciocínio, forte,

e em paz, a conversar com Deus, em orações,

aguardar sem temer a presença da morte.
***
Cristophe Plantin

(Bélgica – 1514 / 1589 )




29/03/2010

" Coração Partido "

" Coração Partido "


Acreditei que o coração já estava

curado para sempre. E já o havia

encantado com a música, a poesia

alta e pura, que à lira dedilhava.



E por onde eu seguia, onde eu passava,

a gentil primavera refloria;

- sonhos de paz e cantos de alegria,

a luz do sol em meu rincão entrava.



Mas, entre as rosas, eis que tu surgiste

como sempre, a sorrir, ó inconstante!

jogando redes, preparando laços...



E o meu altivo olhar tornou-se triste,

e o pobre coração, de novo, amante

outra vez aos teus pés fez-se em pedaços...

***
Juan Ramón Jiménez
(1881-1958)



28/03/2010

" AMOR "

" AMOR "

Baltazar Estazo

(espanhol - século XIX)
 


Com vosso amor é um sábio o ignorante;

sem vosso amor é tolo o mais prudente;

com vosso amor se absolve o delinqüente,

sem vosso amor varia o mais constante;



com vosso amor é ousado o mais galante;

sem vosso amor, culpado o que é inocente;

com vosso amor, festivo o displicente,

sem vosso amor o humilde é um arrogante;



com vosso amor é claro o mais obscuro;

sem vosso amor é nada o que o céu cobre;

com vosso amor é justo o mais iníquo;



sem vosso amor é torpe o que é mais puro,

com vosso amor é rico o que é mais pobre,

sem vosso amor é pobre o que é mais rico!


 
( Tradução de J. G. de Araujo Jorge, do livro

"Os Mais Belos Sonetos Que O Amor Inspirou"

Vol. II - 1a edição 1965 )

27/03/2010

" Tuas Mãos "

" Tuas Mãos "







Mãos frágeis, mãos divinas, mãos pequenas,



leves, espirituais e perfumadas,



cujas unhas são pérolas morenas



nos escrínios dos dedos engastadas.







Mãos que são duas silabas amenas



no poema dos teus braços enfeixadas;



que, estando acima das visões terrenas,



jamais serão por outras igualadas.







Mãos que ostentam, nas formas delicadas



todo o encanto das noites enluaradas



na linda terra que te viu nascer...







E para eu ser feliz basta somente



beijar teus dedos demoradamente



e sob o afago dessas mãos morrer!
***
Abílio de Carvalho
(Vitória, Espirito Santo)

" Esperança (para o amor)"

"Esperança (para o amor)"


Ainda resta afinal intacto o coração
e puro o sonho que como a flor singular e misteriosa
fizeste nascer da pedra lisa.

E ainda podemos como os marinheiros nos mirantes
colocar a mão sobre os olhos para atingir a distancia maior
dos horizontes.

Quando há coração e há caminhos
ainda resta a esperança para o amor.


( Poema de JG de Araujo Jorge extraído do livro

"Os Mais Belos Poemas Que O Amor Inspirou"

Vol. II - 1a edição 1965 )



26/03/2010

" Escrevo Dentro da Noite"

" Escrevo Dentro da Noite"





Estou escrevendo para não gritar. Para não acordar



os que dormem felizes lado a lado,



os que repousam, aconchegados,



os que se encontram e continuam juntos



e não precisam sonhar



porque não dizem adeus...







Estou escrevendo para não gritar. Para enfunar o coração



ao largo.







E as palavras escorrem salgadas como um córrego de águas mortas



num silencioso pranto.



Tão perto, e nem percebes minha insônia. Nem ouves a confidência.



que põe nódoas no papel para não ter que acordar-te



e se transmuda em palavras, que são estátuas de sal.







Estou escrevendo para não gritar. Para não ter tempo



de acompanhar a noite,



para não perceber que estou só, irremediavelmente só,



e que te trago comigo



sem outra alternativa que o pensamento



- cela em que me debato a olhar a lua entre grades.







Estou escrevendo para não gritar. Para não perturbar



os que se amam



se juntam, e se estreitam, e sussurram na sombra



e passeiam ao luar,







para que as palavras chovam num dilúvio, silenciosamente,



e me alaguem, e me afoguem, e me deixem pela noite a dentro



como um corpo sem vida e sem alma,



a flutuar...







( Poema de J. G. de Araujo Jorge



do livro"A Sós..." 1a ed. 1958 )

25/03/2010

Sonetos do Amante II

" Sonetos do Amante II "







Eternizar o amor que fora eterno



embora só vivesse dois instantes:



um quando o céu me alcançou - a um céu sem antes;



depois, ao acender em mim o inferno;



banida do presente, em lago terno



voltes a me banhar e desencantes



o mar que clama em vão, de ondas cortantes



partindo do meu ser, banhado o eterno.



Eternizar o amor de um só momento



e quanto mais perde-lo, mais ganhá-lo.



e quanto mais ganhá-lo, mais alento



trazer no que recordo e no que falo,



para que possa, em febre e sem sentimento



em mármore e sem saudade, eternizá-lo.
***
Afonso Felix de Souza
Jaraguá, Goiás - 1925




"Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou"



J.G . de Araujo Jorge - 1a ed. 1963

24/03/2010

Falando Grego (My Life in Ruins)


Georgia (Nia Vardalos) é uma americana de origem grega, que trabalha como guia turística na Grécia. Ela está cansada do emprego, pois os turistas que recebe estão mais interessados em fazer compras do que em aprender sobre a cultura local. Para piorar a situação, há anos ela não tem um envolvimento amoroso. A situação muda quando Georgia conhece Irv (Richard Dreyfuss), um turista que tenta lhe mostrar a possibilidade de ser feliz novamente, e o interesse do motorista Poupi Kakas (Alexis Georgoulis) a faz repensar seus planos prar ao futuro.


site oficial:http://www.foxsearchlight.com/mylifeinruins/

23/03/2010

" Dias Fantasmas "


" Dias Fantasmas "




 



Não são sólidos, não são líquidos,



são uma estranha massa pastosa estes dias



sem a tua presença,



dias fantasmas que se deformam e escorrem



como aqueles objetos criados pela imaginação doentia



de Salvador Dali.







Dias de massa pastosa, que nas minhas mãos de angústia



parecem maiores, parecem sem fim,



e se distendem fora do tempo numa infinita espera.







Com suas horas fabrico imagens que se enfunam e acenam



- brancas cortinas de sombra



tocadas pelo vento...







Dias vazios . . . Em seus corredores de ermo e silêncio



nossos momentos de amor surgem e ressurgem



como fluidas visões mediúnicas



na inconsistência de sua matéria



tecida só de lembranças . . .











( Poema de J. G. de Araujo Jorge



do livro"A Sós..." 1a ed. 1958 )

22/03/2010

" Estado de Alma... "

" Estado de Alma... "




 



Se eu fosse pintor,



pintaria este dia de chuva...




Depois



me mudaria



para o meu quadro...





( Poema de J. G. de Araujo Jorge



do livro"A Sós..." 1a ed. 1958 )

21/03/2010

Outono


O outono já chegou - aos arrufos do vento
as folhas num desmaio embalam-se pelo ar...
- vão caindo... caindo... uma a uma, em desalento
e uma a uma, lentamente, vão no chão pousar...

O céu perdeu o azul - vestiu-se de cinzento
e envolveu na neblina a luz baça do luar...
- na alameda onde vou, de momento a momento,
há um gemido de folha a cair e a expirar...

O arvoredo transpira as carícias dos ninhos,
e o vento a cirandar na curva das estradas
eleva o folharéu no espaço em redemoinhos...

Há um córrego a levar as folhas secas em bando...
- e à aragem que soluça entre as ramas curvadas,
parece que o arvoredo em coro está chorando!...
J. G. de Araújo Jorge

Catarina a Camões (cont.)

IV


Sim. Creio que se a vê-los te encontrasses

Agora, ao pé do leito em que me fino,

Ainda que a beleza lhes negasses,

Só pelo amor que neles eu defino

Com verdade

E ansiedade

Repetirias, meu amor, ao vê-los:

O lindo ser dos vossos olhos belos.

V

E se neles pusesse teu olhar

E eles pusessem seu olhar no teu,

Toda a luz que começa a lhes faltar

Voltaria de pronto ao lugar seu.

Com verdade

E ansiedade

Dir-se-ia como tu disseste ao vê-los:

O lindo ser dos vossos olhos belos.
VI

Mas – ai de mim! – tu não me vês senão

Nos pensamentos teus de amante ausente,

E sorrindo talvez, sonhando em vão,

Trás o abanar do leque levemente;

E, sem pensar,

Em teu sonhar

Iras talvez dizendo sempre ao vê-los:

O lindo ser dos vossos olhos belos,

VII

Enquanto o meu espírito se debruça

Do meu pálido corpo sucumbido,

Ansioso de saber que falas usa

Teu amor p'ra meu espírito ferido,

Poeta, vem

Mostrar bem

Que amor trazem aos olhos teus desvelos

– O lindo ser dos vossos olhos belos.

VIII

Ó meu poeta, ó meu profeta, quando

Destes olhos louvaste o lindo ser,

Pensaste acaso, enquanto ias cantando,

Que isso já estava prestes de morrer?

Seus olhares

Deram-te ares

De que breve podias não mais vê-los,

O lindo ser dos vossos olhos belos.

IX

Ninguém responde. Só suave, defronte,

No pátio a fonte canta em solidão,

E como água no mármore da fonte,

Do amor p'ra a morte cai meu coração.

E é da sorte

Que seja a morte

E não o amor, que ganhe os teus desvelos

– O lindo ser dos vossos olhos belos!

X

E tu nunca virás? Quando eu me for

Onde as doçuras estão escondidas,

E onde a tua voz, ó meu amor,

Não me abrirá as pálpebras descidas,

Dize, amo meu,

"O amor, morreu!"

Sob o cipreste chora os teus desvelos

– O lindo ser dos vossos olhos belos.

XI

Quando o angelus toca à oração,

Não passarás ao pé deste convento,

Lembrando-te, a chorar, do cantochão

Que anjos nos traziam do firmamento?

No ardor meu

Eu via o céu

E tu: "O mundo é vil, ó meus desvelos,


Ao lindo ser dos vossos olhos belos?"

XII

Devagar quando, do palácio ao pé,

Cavalgares, como antes, suave e rente,

E ali vires um rosto que não é

O que vias ali antigamente,

Dirás talvez

"Tanta vez

Me esperaste aqui, ó meus desvelos

Ó lindo ser dos vossos olhos belos!"

XIII

Quando as damas da corte, arfando os peitos,

Te disserem, olhando o gesto teu,

"Canta-nos, poeta, aqueles versos feitos

Àquela linda dama que morreu",

Tremerás?

Calar-te-ás?

Ou cantarás, chorando, os teus desvelos

– O lindo ser dos vossos olhos belos?

XIV

"Lindo ser de olhos belos!" Suaves frases

E deliciosas quando eu as repito!

Cem poesias outras que cantasses,

Sempre nesta a melhor terias dito.

Sinto-a calma

Entre a minha alma

E os rumores da terra ? pesadelos:

– O lindo ser dos vossos olhos belos.

XV

Mas reza o padre junto à minha face,

E o coro está de joelhos todo em prece,

E é forçoso que a alma minha passe

Entre cantos de dor, e não como esse.

Miserere

P'los que fere

O mundo, e p'ra Natércia, os teus desvelos

– O lindo ser dos vossos olhos belos.

XVI

Guarda esta fita que te mando

(Tirei-a dos cabelos para ti).

Sentir-te-ás, quando o teu choro arda,

Acompanhado na tua dor por mi;

Pois com pura

Alma imperjura

Sempre do céu te olharão teus desvelos

– O lindo ser dos vossos olhos belos.

XVII

Mas agora, esta terra inda os prendendo,

Desses olhos o brilho é inda alado...

Amor, tu poderás encher, querendo,

Teu futuro de todo o meu passado,

E tornar

A cantar

A outra dama ideal dos teus desvelos:

O lindo ser dos vossos olhos belos.

XVIII

Mas que fazeis, meus olhos, ó perjuros!

Perjuros ao louvor que ele vos deu,

Se esta hora mesmo vos não mostrais puros

De lágrima que acaso vos encheu?

Será forte

Choro ou morte

Se indignos os tornar de teus desvelos

– O lindo ser dos vossos olhos belos.

XIX

Seu futuro encherá meu 'spírito alado

No céu, e abençoá-lo-ei dos céus.

Se ele vier a ser enamorado

De olhos mais belos do que os olhos meus,

O céu os proteja,

Suave lhes seja

E possa ele dizer, sincero, ao vê-los:

– O lindo ser dos vossos olhos belos.

Elizabeth Barret Browning

20/03/2010

Catarina a Camões

I


P'ra a porta onde não surges nem me vês


Há muito tempo que olho já em vão.


A esperança retira o seu talvez;


Aproxima-se a morte, mas tu não.


Amor, vem


Fechar bem


Estes olhos de que dissestes ao vê-los:


O lindo ser dos vossos olhos belos.



II


Quando te ouvi cantar esse bordão


Nos meus de primavera alegres dias;


Todo alheio louvar tendo por vão


Só dava ouvidos ao que tu dizias


– Dentro em mim


Dizendo assim:


"Ditosos olhos de que disse ao vê-los:


O lindo ser dos vossos olhos belos."










III


Mas tudo muda. Nesta tarde fria


O sol bate na porta sem calor.


Se estivesse aí murmuraria


Como dantes tua voz – "amo-te, amor";


A morte chega


E já cega


Os olhos que ontem eram teus desvelo


O lindo ser dos vossos olhos belos.








Catarina a Camões



Elizabeth Barret Browning


Tradução de Fernando Pessoa













19/03/2010

Mãos Talentosas - A História de Ben Carson (Gifted Hands - The Ben Carson History, 2009)

Benjamin Solomon Carson (Cuba Gooding Jr) nasceu em Detroit, Michigan, em 18 de setembro de 1951. Sua mãe, Sonya Carson (Kimberly Elise), largou a escola no terceiro ano e casou-se com Robert Solomon Carson, um ministro batista do Tennessee bem mais velho do que ela, com apenas 13 anos. Quando Carson estava com 8 anos, os pais se separaram, e Sonya criou sozinha Ben e seu irmão mais velho, Curtis.

Ben Carson experimentou dificuldades na escola, tornando-se um dos últimos da turma, sendo ridicularizado e desenvolvendo um temperamento violento, que tinha dificuldade de controlar. A determinação de sua mãe ajudou-o a mudar hábitos e a formar-se com louvor no Ensino Médio e a ganhar uma bolsa para a Universidade de Yale, na área de em Psicologia.

Ben Carson entrou para a história da medicina no ano de 1987 ao separar gêmeos siameses unidos pela cabeça. Atualmente, Carson é diretor da Divisão de Neurocirurgia Pediátrica do Hospital Johns Hopkins, em Baltimore, Maryland.

"Mãos Talentosas", do diretor Thomas Carter, conta essa história de superação através da expansão da imaginação, inteligência, confiança em si mesmo e em Deus, acima de tudo.



Censura: 12 anos.
Minha nota: *****

15/03/2010

Os poemas

Os poemas são pássaros que chegam



não se sabe de onde e pousam



no livro que lês.



Quando fechas o livro, eles alçam vôo



como de um alçapão.



Eles não têm pouso



nem porto



alimentam-se um instante em cada par de mãos



e partem.



E olhas, então, essas tuas mãos vazias,



no maravilhoso espanto de saberes



que o alimento deles já estava em ti...















Fonte:



QUINTANA, Mário. Esconderijos do tempo. Porto Alegre: L&PM,1980.










13/03/2010

Sossega, coração!


Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!


Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.

Fernando Pessoa, 2-8-1933.

12/03/2010

Espelho

Por acaso, surpreendo-me no espelho:

Quem é esse que me olha e é tão mais velho que eu? (...)

Parece meu velho pai - que já morreu! (...)

Nosso olhar duro interroga:

"O que fizeste de mim?" Eu pai? Tu é que me invadiste.

Lentamente, ruga a ruga... Que importa!

Eu sou ainda aquele mesmo menino teimoso de sempre

E os teus planos enfim lá se foram por terra,

Mas sei que vi, um dia - a longa, a inútil guerra!

Vi sorrir nesses cansados olhos um orgulho triste..."

Mário Quintana

11/03/2010

" Esta Saudade "

" Esta Saudade "



Esta saudade és tu.. . E é toda feita
de ti, dos teus cabelos, dos teus olhos
que permanecem como estrelas vagas:
dois anseios de amor, coagulados.


Esta saudade és tu ... É esse teu jeito
de pomba mansa nos meus braços quieta;
é a tua voz tecida de silêncio
nas palavras de amor que ainda sussurram.


Esta saudade são teus seios brancos;
tuas carícias que ainda estão comigo
deixando insones todos os sentidos.


Esta saudade és tu ... É a tua falta
viva, em meu corpo, na minha alma, viva,
... enquanto eu morro no meu pensamento.

J. G. de Araújo Jorge

10/03/2010

Se cada dia cai

Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.
Há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.

Pablo Neruda
(Últimos Poemas)

09/03/2010

Up - Altas aventuras (Up, EUA, 2009)

O desenho conta as aventuras que Carl Fredericksen (voz original de Edward Asner, dublado por Chico Anísio), um idoso viúvo com seu sonho de se mudar para o magnífico Paraíso das Cachoeiras, na América do Sul,  enfrenta ao conhecer Russel (um garoto escoteiro amante da natureza com seu sonho de protegê-la),  Charles Muntz (o explorador difamado buscando reestabelecer sua reputação), Kevin (a ave tropical) e Dug (um golden retriever falante).
É o segundo longa-metragem do diretor Pete Docter (o prmeiro foi Monstros S.A.) e também o décimo-primeiro filme da Disney a ser apresentado em Disney Digital 3-D (primeiro da Pixar), e venceu o Oscar de melhor filme de animação de 2010. Merecidamente.
Minha nota: ****

08/03/2010

"Em Silêncio..."

"Em Silêncio..."


Poderíamos ficar assim
indefinidamente.

Conversariam nossos olhos.
As palavras cintilariam
e desapareceriam
como fosforecências de algas,
nas areias...

 J. G. de Araujo Jorge - A SÓS... , 1958

07/03/2010

Já não procuro a palavra exata

Já não procuro a palavra exata
que me pudesse explicar:
ando pelos contornos onde todos os significados
são sutís, são mortais.
Não busco prender o momento belo:
quero vivê-lo sempre mais com a intensidade que exige a vida,
com o desgarramento do salto e da fulguração.
E me corto ao meio e me solto de mim, duplo coração:
a que vive,
a que narra,
a que se debate
e a que voa
- na loucura que redime da lucidez


(Lya Luft)

06/03/2010

Amor fora do tempo




Amor fora do tempopara nós, é teia e amarra


***
O tempo - esponja e inverno,
tédio e rotina,
epitáfio e adeus,
irremediável partida sem partidas,
destilação de ausência -,
- fusão.
O tempo é que se ausenta
e à margem dele, restamos eternos,
dois a viverem
num coração.
***
J. G. de Araújo Jorge

05/03/2010

Nos bosques

Nos bosques, perdido, cortei um ramo escuro



E aos lábios, sedento, levante seu sussurro:



era talvez a voz da chuva chorando,



um sino quebrado ou um coração partido.



Algo que de tão longe me parecia



oculto gravemente, coberto pela terra,



um grito ensurdecido por imensos outonos,



pela entreaberta e úmida treva das folhas.



Porem ali, despertando dos sonhos do bosque,



o ramo de avelã cantou sob minha boca



E seu odor errante subiu para o meu entendimento



como se, repentinamente, estivessem me procurando as raízes



que abandonei, a terra perdida com minha infância,



e parei ferido pelo aroma errante.







Não o quero, amada.



Para que nada nos prenda



para que não nos una nada.



Nem a palavra que perfumou tua boca



nem o que não disseram as palavras.



Nem a festa de amor que não tivemos



nem teus soluços junto à janela...



Pablo Neruda

04/03/2010

Solidão

Por certo a pior solidão
é aquela que a gente sente
sem ninguém, no coração...
No meio de muita gente...
.
Praias longe, em solidão
fora de todas as rotas,
tal como o meu coração
só como o sonho... das gaivotas...
.
J. G. de Araújo Jorge