20/03/2010

Catarina a Camões

I


P'ra a porta onde não surges nem me vês


Há muito tempo que olho já em vão.


A esperança retira o seu talvez;


Aproxima-se a morte, mas tu não.


Amor, vem


Fechar bem


Estes olhos de que dissestes ao vê-los:


O lindo ser dos vossos olhos belos.



II


Quando te ouvi cantar esse bordão


Nos meus de primavera alegres dias;


Todo alheio louvar tendo por vão


Só dava ouvidos ao que tu dizias


– Dentro em mim


Dizendo assim:


"Ditosos olhos de que disse ao vê-los:


O lindo ser dos vossos olhos belos."










III


Mas tudo muda. Nesta tarde fria


O sol bate na porta sem calor.


Se estivesse aí murmuraria


Como dantes tua voz – "amo-te, amor";


A morte chega


E já cega


Os olhos que ontem eram teus desvelo


O lindo ser dos vossos olhos belos.








Catarina a Camões



Elizabeth Barret Browning


Tradução de Fernando Pessoa













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