Sonhei, amei, pela existência afora,
na dourada ilusão da primavera
e muito mais sonhara, se pudera
e mais amara, permitido fora.
.
Sonhei, amei, cantei, sabendo embora
que pelo mundo imenso da quimera
a treva do horizonte se apodera
e o perfume das flores se evapora.
.
Afinal, pelo abismo em que resvalo,
talvez o desengano foi meu prêmio
e quem fora capaz de desejá-lo?
.
No desengano imenso que me inquieta,
eu vou vivendo ao léu, como um boêmio
e vou sonhando sempre, como um poeta.
*****
Affonso Montenegro Louzada
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