12/06/2010

Houve um poema


 

Houve um poema,

entre a alma e o universo.

Não há mais.

Bebeu-o a noite, com seus lábios silenciosos.

Com seus olhos estrelados de muitos sonhos.


Houve um poema:

Parecia perfeito.

Cada palavra em seu lugar,

como as pétalas nas flores

e as tintas no arco-íris.

No centro, mensagem doce

E intransmitida jamais.


Houve um poema:

e era em mim que surgia, vagaroso.

Já não me lembro, e ainda me lembro.

As névoas da madrugada envolvem sua memória.

É uma tênue cinza.

O coral do horizonte é um rastro de sua cor.

Derradeiro passo.


Houve um poema.

Há esta saudade.

Esta lágrima e este orvalho - simultâneos -

que caem dos olhos e do céu.


Cecília Meireles

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