28/05/2011

22. Óculos

As lentes que me deram ao nescer
são lúcidas como chuva
que tornasse tudo áspero
- não doce.
Engano pensar que a arte afaga:
ela me puxa pelos cabelos,
me lança no olho
da ventania.

Não durmo, não divago, não
tenho complacência:
cada palavra pesada,
cada entrelinha apurada
para que não escape
nada do que vejo
e sonho. Tudo muito grave,
tudo urgente.

(Mas sempre espero aquele beijo,
sempre espero aquele beijo.)

Lya Luft

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