A PORTA da verdade estava aberta
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez. 
Assim não era possível atingir toda a verdade
porque a meia pessoa que entrava
só conseguia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam. 
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia os seus fogos.
Era dividida em duas metades
diferentes uma da outra. 
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
E era preciso optar. Cada um optou
confere seu capricho, sua ilusão, sua miopia. 
 
Carlos Drummond de Andrade 

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