01/04/2010

A Ausência

"A Ausência "









Ao pé do lampião, no meu quarto deserto,



venho ler (e a esperança o espírito me invade)



onde o silêncio tem o aroma da saudade,



tuas cartas de amor que ao coração aperto.







O selo que as distingue é de um país incerto. . .



Mas que me importa o espaço, o tempo, a soledade?



O papel chora ou ri, mas diz sempre a verdade,



e eu do meu sonho, enfim, romântico, desperto.







Milagre! o fogo aumenta a vibração, e aflita



a chama - sua irmã - indecisa, palpita!



Parece-me que estás de volta da viagem...







E por um esplendor de que eu mesmo me espanto,



tuas cartas me dão, a um tempo, por encanto,



a sombra do teu vulto e o eco da tua imagem.







Henri de Régnier ( 1864-1936 )
Marselha, 1919
Tradução de Osório Duque.



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