Ao pé do lampião, no meu quarto deserto,
venho ler (e a esperança o espírito me invade)
onde o silêncio tem o aroma da saudade,
tuas cartas de amor que ao coração aperto.
O selo que as distingue é de um país incerto. . .
Mas que me importa o espaço, o tempo, a soledade?
O papel chora ou ri, mas diz sempre a verdade,
e eu do meu sonho, enfim, romântico, desperto.
Milagre! o fogo aumenta a vibração, e aflita
a chama - sua irmã - indecisa, palpita!
Parece-me que estás de volta da viagem...
E por um esplendor de que eu mesmo me espanto,
tuas cartas me dão, a um tempo, por encanto,
a sombra do teu vulto e o eco da tua imagem.
Henri de Régnier ( 1864-1936 )
Marselha, 1919
Tradução de Osório Duque.
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