01/11/2009

O Outro


Como decifrar pictogramas de há dez mil anos

se nem sei decifrar

minha escrita interior?


Interrogo signos dúbios

e suas variações calidoscópicas

a cada segundo de observação.


A verdade essencial

é o desconhecido que me habita

e a cada amanhecer me dá um soco.


Por ele eu também sou observado

com ironia, desprezo, incompreensão.

E assim vivemos, se ao confronto se chama viver,

unidos, impossibilitados de desligamento,

acomodados, adversos,

roídos de infernal curiosidade.

:::


Carlos Drummond de Andrade

(Corpo - Novos Poemas , 4ª edição).
Foto: Por-do-sol em Curitiba, Novembro/2009
(Liz Guides)

Nenhum comentário: