08/11/2009

O Gosto do Nada


O Gosto do Nada


Espírito sombrio, outrora afeito à luta,

A Esperança, que um dia te instigou o ardor,

Não te cavalga mais! Deita-te sem pudor,

Cavalo que tropeça e cujo pé reluta.


Conforma-te, minha alma, ao sono que te enluta.


Espírito alquebrado! Ao velho salteador

Já não seduz o amor, nem tampouco a disputa;

Não mais o som da flauta ou do clarim se escuta!

Prazer, dá trégua a um coração desfeito em dor!


Perdeu a doce primavera o seu odor!


O Tempo dia a dia os ossos me desfruta,

Como a neve que um corpo enrija de torpor;

Contemplo do alto a terra esférica e sem cor,

E nem procuro mais o abrigo de uma gruta.


Vais levar-me, avalanche, em tua queda abrupta?


Charles Baudelaire

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