"Havia, porém, momentos de inefável poesia, que explodiam subitamente nos dias pálidos, tais como um raio de sol através do nevoeiro. Era um olhar, um gesto, uma palavra que nada significava... Descobriram o encanto das coisas. A primavera sorria com doçura maravilhosa. O céu deslumbrava; no ar, havia uma ternura que ele não conheciam... nem uma nuvem no céu...
Nada há de comum entre a vida e os seus sonhos...
Conheceu então pela primeira vez a terrível tristeza da ausência. Tormento intolerável para todos os corações amantes. O mundo é vazio, a vida é vazia, tudo é vazio. Não se pode mais respirar, vive-se numa angústia mortal. Sobretudo quando persistem em torno de nós os traços materiais da passagem da pessoa amada, quando os objetos que nos cercam a evocam constantemente, quando permanece no cenário familiar, onde se viveu juntos, quando teimamos em continuar revivendo nos mesmos lugares a felicidade desaparecida."
"Jean-Christophe", vol. I, de Romain Rolland.
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