30/05/2009

"Caminheiro"


"Caminheiro"
Eu ando pela vida à procura de alguém
que saiba compreender minha alma incompreendida,
alguém que queira dar-me a sua própria vida
como eu lhe dar pretendo o meu viver também...
Caminheiro do ideal - seguindo para o além
vou traçando uma rota estranha e indefinida,
- não sei se em minha estrada hei de encontrar guarida,
ou se eterno hei de andar, sem rumo e sem ninguém...
Já me sinto cansado... E em vão ainda caminho
na ilusão de encontrar um dia a companheira
que me ajude na vida a construir meu ninho...
Boemia do destino!... Hei de andar... hei de andar...
até que esta minha alma errante e aventureira
descanse numa cruz cansada de sonhar!...
(Poema de J. G. de Araujo Jorge, extraído do livro"Meu Céu Interior", 1ª edição, setembro,1934.)

28/05/2009

"How do I love you?" (Elizabeth Barrett Browning)

SONETO XXVIII
Tradução: Manuel Bandeira

As minhas cartas! Todas elas frio,
Mudo e morto papel! No entanto agora
Lendo-as, entre as mãos trêmulas o fio
da vida eis que retomo hora por hora.

Nesta queria ver-me — era no estio
—Como amiga a seu lado... Nesta implora
Vir e as mãos me tomar... Tão simples! Li-o
E chorei. Nesta diz quanto me adora.


Nesta confiou: sou teu, e empalidece
A tinta no papel, tanto o apertara
Ao meu peito que todo inda estremece!

Mas uma... Ó meu amor, o que me disse
Não digo. Que bem mal me aproveitara,
Se o que então me disseste eu repetisse...

Eu queria trazer-te uns versos muito lindos


Eu queria trazer-te uns versos muito lindos
colhidos no mais íntimo de mim...
Suas palavras
seriam as mais simples do mundo,
porém não sei que luz as iluminaria
que terias de fechar teus olhos para as ouvir...
Sim! Uma luz que viria de dentro delas,
como essa que acende inesperadas cores
nas lanternas chinesas de papel!
Trago-te palavras, apenas...
e que estão escritas
do lado de fora do papel...
Não sei, eu nunca soube o que dizer-te
e este poema vai morrendo,
ardente e puro, ao vento
da Poesia...como
uma pobre lanterna que incendiou!


Mário Quintana

25/05/2009

Terra das Sombras/Anatomia de uma Dor - C.S.Lewis

Terra das Sombras ( Shadowlands) é um filme britânico de 1993, dirigido por Richard Attenborough, sobre o teólogo, escritor e professor de literatura medieval na Universidade de Oxfor, que conhece e se apaixona pela escritora americana Joy Gresham, divorciada e com dois filhos, um deles é Douglas Gresham (Joseph Mazzello). Joy é uma escritora brilhante e de ineligência excepcional, uma mulher que atravessa o oceano para conhecer o homem que tanto admira. Estrelado por Anthony Hopkins e Derbra Wingers.



"Ao longe, ao luar,
No rio uma vela
Serena a passar,
Que é que me revela? Não sei, mas meu ser
Tornou-se-me estranho,
E eu sonho sem ver
Os sonhos que tenho.
Que angústia me enlaça?
Que amor não se explica?
É a vela que passa
Na noite que fica."
Fernando Pessoa, 5-08-1921

 
Neste relato tocante, o grande teólogo C. S. Lewis mostra seu lado sombrio e amargo, até então desconhecido dos leitores. Apesar de ter escrito anteriormente sobre o sofrimento, é neste livro pungente que suas emoções são colocadas à mostra. Com grande intensidade e sofrimento, o escritor revela seu sentimento de indignação após a perda de sua amada, a escritora Joy Gresham. Até descobrir algo...

"Deus certamente não estava fazendo uma experiência com minha fé nem com meu amor para provar sua qualidade. Ele já os conhecia muito bem. Eu é que não. Nesse julgamento, ele nos faz ocupar o banco dos réus, o banco das testemunhas e o assento do juiz de uma só vez. Ele sempre soube que meu templo era um castelo de cartas. A única forma de fazer-me compreender o fato foi colocá-lo abaixo. Recuperar-se tão cedo? Mas as palavras são ambíguas. Dizer que o paciente está se recuperando depois de uma operação de apendicite é uma coisa; depois de lhe amputarem a perna é outra bem diferente... ou o coto cicatriza ou o homem morre. Se cicatrizar, a dor atroz e contínua cessará. Dentro em pouco ele recobrará a força e será capaz de caminhar com uma perna de pau. Ele “se recuperou”; mas é provável que sinta dores recorrentes no coto por toda a vida e talvez padecimentos bem ruins; ele sempre será um perneta. Dificilmente haverá momento em que se esqueça disso. Tomar banho, vestir-se, sentar-se e levantar-se de novo, até mesmo deitar na cama, tudo será diferente. Seu tipo de vida mudará na totalidade. Todo tipo de prazeres e atividades um dia tão certos deverão ser simplesmente eliminados. Os deveres também. No momento, estou aprendendo a andar com muletas. Talvez em breve me seja dada uma perna de pau; mas jamais serei um bípede de novo.”[1] "




"Na morada de Deus não há pânico" (Ricardo Gondim Rodrigues)



Há um rio cujos canais alegram a cidade de Deus, o Santo Lugar onde habita o Altíssimo”. – Salmos 46.4

Acostumei-me em minha adolescência com o cenário cinzento das caatingas nordestinas. Na minha terra, o verde do sertão é sazonal. Na maior fatia de tempo, os galhos secos de árvores teimosas, parecem haver sobrevivido a um grande incêndio. O sertão enfeia-se por meses e meses e só se veste de verde quando chove. E chuva é coisa rara no agreste brasileiro. Deve ser essa a explicação por que uma gravura me atraía tanto. Era um quadro de moldura simples que ornamentava uma parede da casa de minha avó. Retratava os sempre viçosos prados alpinos. Eu me fascinava contemplando aquele cenário em que o azul intenso de um céu despido de nuvens, contrastava com o branco das neves e o verde da relva. Recordo-me que entre duas montanhas se aninhava um lago de águas absolutamente tranqüilas. Hoje quando penso em paz, não caço definições em livros filosóficos, basta retornar ao corredor humilde da casa de minha avó e a vejo pendurada por um prego. E todas as vezes que leio o Salmo 46, aquela gravura renasce em minha memória. Neste Salmo o autor cria um clima de enorme confusão, caos e angústia. O mar enfurecido espumeja, as montanhas se desmancham como farinha e os terremotos sacodem tudo. A vida pode se transformar velozmente em anarquia e tudo o que é sólido se desmanchar em nada. Mas há um rio de águas tranqüilas que não semeia turbulência, suas águas plácidas acalmam e inspiram paz. Esse rio brota do lugar onde habita Deus. Sua fonte está em um lugar onde não há pânico, o trono do Altíssimo. O salmista deseja que penduremos essa mensagem bem diante dos nossos olhos, principalmente quando nos falta chão e os redemoinhos nos sugarem para baixo. Não há pânico na casa de Deus, o Altíssimo não se abalou com as tempestades que assolaram a terra. Ao redor de Deus reina um clima de absoluta serenidade. Ele põe fim à guerra, despedaça os instrumentos de morte e destrói os escudos com fogo. Grande é o alívio, quando ele sugere aos espantados: “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus” – v. 10.
http://www.ricardogondim.com.br/


Minha nota para o filme: *****
Minha nota para o livro, muito sincero: *****
Minha nota para os textos do Gondim: *****


24/05/2009

A um ausente

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu,
enlouquecendo nossas horas.

Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,o ato
que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,

de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.

Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

Carlos Drummond de Andrade

23/05/2009

Os Poemas


OS POEMAS


Os poemas são pássaros que chegam

não se sabe de onde e pousam

no livro que lês.

Quando fechas o livro, eles alçam voo

como de um alçapão.

Eles não têm pouso

nem porto

alimentam-se um instante em cada par de mãos

e partem.

E olhas, então, essas tuas mãos vazias,

no maravilhado espanto de saberes

que o alimento deles já estava em ti...



Carlos Drummond de Andrade

22/05/2009

"Havia, porém, momentos de inefável poesia, que explodiam subitamente nos dias pálidos, tais como um raio de sol através do nevoeiro. Era um olhar, um gesto, uma palavra que nada significava... Descobriram o encanto das coisas. A primavera sorria com doçura maravilhosa. O céu deslumbrava; no ar, havia uma ternura que ele não conheciam... nem uma nuvem no céu...
Nada há de comum entre a vida e os seus sonhos...
Conheceu então pela primeira vez a terrível tristeza da ausência. Tormento intolerável para todos os corações amantes. O mundo é vazio, a vida é vazia, tudo é vazio. Não se pode mais respirar, vive-se numa angústia mortal. Sobretudo quando persistem em torno de nós os traços materiais da passagem da pessoa amada, quando os objetos que nos cercam a evocam constantemente, quando permanece no cenário familiar, onde se viveu juntos, quando teimamos em continuar revivendo nos mesmos lugares a felicidade desaparecida."
"Jean-Christophe", vol. I, de Romain Rolland.

21/05/2009

Remember


Remember


Recorda-te de mim quando eu embora

For para o chão silente e desolado;

Quando não te tiver mais ao meu lado

E sombra vã chorar por quem me chora.


Quando não mais puderes, hora a hora,

Falar-me no futuro que hás sonhado,

Ah, de mim te recorda e do passado,

Delícia do presente por agora.


No entanto, se algum dia me olvidares

E depois te lembrares novamente,

Não chores: que se em meio aos meus pesares,


Um resto houver do afeto que em mim viste,

— Melhor é me esqueceres, mas contente,

Que me lembrares e ficares triste.


Christina Rossetti (poetisa inglesa, 1830-1894), tradução de Manuel Bandeira.

18/05/2009


"Ao passarmos ao pé de colinas que foram sacudidas por algum terremoto e rasgada por abalos, descobrimos que depois dos períodos de destruição vêm tempos de calma. Junto às rochas desmoronadas, lá estão poças de água calma; lírios de água crescem viçosos e juncos sussurram na sombra; a cidade levanta- se outra vez sobre os túmulos esquecidos, e a torre da igreja parece fazer um renovado apelo à proteção dAquele de quem diz o salmista: “Nas Suas mãos estão as profundezas da terra, e as alturas dos montes lhe pertencem.”

Ruskin


Crédito da imagem: Sueli Batista.

14/05/2009

Eu sei, mas não devia


Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.


Marina Colasanti nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis. Recebeu o Prêmio Jabuti com Eu sei mas não devia e também por Rota de Colisão. Dentre outros escreveu E por falar em Amor; Contos de Amor Rasgados; Aqui entre nós, Intimidade Pública, Eu Sozinha, Zooilógico, A Morada do Ser, A nova Mulher, Mulher daqui pra Frente e O leopardo é um animal delicado.

12/05/2009

Austrália (2008, 165 min, censura 12 anos)

No início da 2ª Guerra Mundial, Sarah Ashley (Nicole Kidman), uma arrogante aristocrata inglesa, viaja para a Austrália para reencontrar o marido, que vive isolado em uma extensa fazenda de gado, mas, ao chegar, descobre que ele foi assassinado. Para não perder a fazenda, ela se une a um vaqueiro, Drocer (Hugh Jackman) e ao garoto arborígene Nullah (Brandon Walters), neto de Rei George (David Gulpilil ). Juntos, eles precisam levar um rebanho de gado até Darwin, no interior do país, lutando contra o domínio de Rei Carney (Bryan Brown) e seu desleal empregado Neil Fletcher (David Wenham) .
Direção de Baz Luhrmann, roteiro de Stuart Beattie, Baz Luhrmann, Ronald Harwood e Richard Flanagan, baseado em estória de Baz Luhrmann. A produção é de G. Mac Brown, Catherine Knapman e Baz Luhrmann, a música é de David Hirschfelder e a fotografia (belíssima), de Mandy Walker.
Minha nota: ****

11/05/2009

Em Algum Lugar do Passado (Somewhere in Time, 1980)


Richard Collier (Christopher Reeve) é um jovem teatrólogo que conhece um senhora idosa, na noite de estréia da sua primeira peça, em 1972, quando ela lhe dá um antigo relógio de bolso, diz: "Volte para mim"e retira-se sem dizer mais nada, deixando-o intrigado, enquanto volta para seu quarto no Grand Hotel. Chicago, 1980. Richard não consegue terminar sua nova peça, decide viajar sem destino certo e hospeda-se no Grand Hotel. Ao visitar o Salão Histórico, que esta está repleto de antiguidades, encantado-se com a fotografia de uma bela mulher, que Arthur Biehl (Bill Erwin), um antigo funcionário do hotel, diz para Richard ser Elise McKenna (Jane Seymour), uma atriz famosa que fez uma peça no teatro do hotel, em 1912. Collier fica obcecado com o rosto de Elise e decide não partir e então vai até uma biblioteca próxima pesquisar sobre a atriz. Lá, ele descobre que Elise é a mesma mulher que lhe deu o relógio. Para achar a peça que falta neste quebra-cabeças, Richard terá de ir em algum lugar do passado, desligando-se do presente.





Minha nota: ****

A Troca (Changeling, 2008, 140 min, censura 16 anos)


Christine Collin (Angelina Jolie) é uma mãe solteira que busca desesperamente por seu filho, Walter (Gattlin Griffith). Walther foi seqüestrado em uma manhã de sábado, após ela ter saído para trabalhar. Após cinco meses de buscas intensas, finalmente, o departamento de polícia encontra o garoto. Mas algo está errado e, em seu coração, Christine desconfia que ele não seja seu filho verdadeiro e, com a ajuda do reverendo Gustav Briegleb (John Malkovich), passa a acusar o departamento e o chefe de polícia de corruptos como também Earl Taar (Peter Gerety),um médico conivente, sofrendo por isso muitas retaliações. Baseado em um caso real acontecido entre 1928 e 1930, e dirigido por Clint Eastwood.








Minha nota: ****

08/05/2009



"Pousa em meu coração, como pousam as aves

nos ninhos... quero ouvir os teus gorjeios suaves.

Constrói-me ao teu prazer, com raminhos dispersos,

e aquecerei teu corpo ao calor de meus versos.

Deixa-me ouvir-te à noite, em languidez convulsa,

o peito que suspira e o coração que pulsa.

Permite-me escutar, nos clarões matutinos,

a musicalidade excelsa dos teus trinos...

Um doce aroma agreste a tarde azul trescala:

é o hálito da flor que, certamente, fala...

É hora de voltar ao ninho a passarada,

o dia vai fechando a pálpebra cansada...

a brisa do repouso em doce perpassar

sussura levemente um canto de ninar...

e os ramos, como em sonho, impulsionando os ninhos,

são braços maternais a embalar os filhinhos...

Pousa em meu coração, pois queimam como brasas

as penas que deixaste ao sacudir as asas,

quando, sem rumo certo, ao céu azul subiste,

deixando-me sozinha(o), abandonada(o) e triste!"

Gióia Junior (adaptações minhas)
rédito da imag em: http://www.gettyimages.com/

07/05/2009

Navegue ...


Navegue ...

(Fernando Pessoa)

Navegue, descubra tesouros, mas não os tire do fundo do mar, o lugar deles é lá.
Admire a lua, sonhe com ela, mas não queira trazê-la para a terra.
Curta o sol, se deixe acariciar por ele, mas lembre-se que o seu calor é
para todos.
Sonhe com as estrelas, apenas sonhe, elas só podem brilhar no céu.
Não tente deter o vento, ele precisa correr por toda parte, ele tem pressa
de chegar sabe-se lá onde.
Não apare a chuva, ela quer cair e molhar muitos rostos, não pode molhar só
o seu.
As lágrimas? Não as seque, elas precisam correr na minha, na sua, em todas
as faces.
O sorriso! Esse você deve segurar, não deixe-o ir embora, agarre-o!
Quem você ama? Guarde dentro de um porta jóias, tranque, perca a chave!
Quem você ama é a maior jóia que você possui, a mais valiosa.
Não importa se a estação do ano muda, se o século vira e se o milênio é
outro, se a idade aumenta; conserve a vontade de viver, não se chega à
parte alguma sem ela.
Abra todas as janelas que encontrar e as portas também.
Persiga um sonho, mas não deixe ele viver sozinho.
Alimente sua alma com amor, cure suas feridas com carinho.
Descubra-se todos os dias, deixe-se levar pelas vontades, mas não
enlouqueça por elas.
Procure, sempre procure o fim de uma história, seja ela qual for.
Dê um sorriso para quem esqueceu como se faz isso.
Acelere seus pensamentos, mas não permita que eles te consumam.
Olhe para o lado, alguém precisa de você.
Abasteça seu coração de fé, não a perca nunca.
Mergulhe de cabeça nos seus desejos e satisfaça-os.
Agonize de dor por um amigo, só saia dessa agonia se conseguir tirá-lo
também.
Procure os seus caminhos, mas não magoe ninguém nessa procura.
Arrependa-se, volte atrás, peça perdão!
Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar
necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se achá-lo, segure-o!
"Circunda-te de rosas, ama, bebe e cala. O mais é nada".
Crédito da imagem: getty images.com

06/05/2009

Jane Eyre (1996, França/Itália, 116 min)

1. O livro

Escrito por Charlotte Brontë, romancista inglesa nascida em Thornton, Yorkshire,em 1816 e falecida em 1855, e cujos livros tratam de mulheres em conflito com seus desejos e sua condição social, marcando o início de uma nova etapa no romance do século XIX. Terceira filha de um pastor metodista, Patrick Brontë, perdeu logo sua mãe, Maria Bronwell, tendo uma infância triste e reprimida, passando a maior parte da vida no presbitério de Haworth, para onde seu pai foi transferido. Foi educada no colégio de Cowan Bridge, rigorosa instituição vitoriana cujos métodos desumanos de disciplina denunciou em seu romance "Jane Eyre", o mais célebre de seus quatro livros. Transferiu-se para uma escola de Roe Head, perto de Huddersfield (1831), onde construiu uma grande amizade com Ellen Nussey, com a qual se correspondeu até a morte. Com suas irmãs Emily e Anne, publicou o volume "Poems by Currer, Ellis and Acton Bell", em 1846. O lançamento de "Jane Eyre", em 1847, com um enredo melodramático, garantiu-lhe sucesso imediato; a seguir, publicou "Shirley" (1849), notável por sua descrição da vida em Yorkshire e, por fim, seu último romance em vida, " Villette", em 1853, rememorando as suas experiências em Bruxelas. De saúde instável, morreu prematuramente, em Haworth. Postumamente, foi publicado outro seu grande sucesso, o romance "The Professor", em 1857.


2. O filme:Jane, órfã de pai e mãe, vive infeliz na casa da tia que a detesta, e acaba por enviá-la para um internato, onde então conhece os primeiros momentos de felicidade.Depois de seis anos como aluna e mais dois como professora, vai trabalhar como preceptora da jovem Adèle, a pupila de Edward Rochester.
Quando Jane conhece Rochester, apaixona-se por ele, que propõe-lhe casamento. No dia do casamento, Jane descobre que Rochester já era casado, com uma mulher chamada Bertha, que enlouquecera e era mantida escondida no sótão de Thornfield Hall. Jane decide fugir e, após alguns dias de fome, é recolhida por Saint John Rivers e suas irmãs. Mais tarde, descobre que herdou dinheiro de um tio e seus anfitriões são seus primos direitos, recompensando-os com parte da herança.

Jane, então, resolve descobrir a verdade do passado de Rochester, antes de aceitar o pedido de casamento que s eu primo lhe fizera, e parte para Thornfield Hall.

Direção de Franco Zefirelli.


Minha nota: ***

01/05/2009

Madrigal


"Madrigal"

“Gosto de falar de amor, do nosso amor,
Retendo em minhas mãos as tuas mãos pequenas,
- quando a tarde no céu põe desmaios de cor
E há no espaço um rumor inaudível de penas...

Gosto de conversar com os teus olhos estranhos
No silêncio feliz de intermináveis idílios
- inebria-me a luz dos teus olhos castanhos
Através do “abat-jour” de seda dos teus cílios...

Gosto de te falar de amor, falar baixinho...
Tudo o que então te digo, a sós, nesses instantes,
E assim como o arrulhar amoroso de um ninho
Ou o rumor de uma fonte em lugares distantes...

Gosto de falar de amor, - sentir que aos poucos
Vamos ficando tontos, sem querer, os dois...
E te ouço a me dizer que não! Que somos loucos!
- e te entregas inteira em meus braços depois...

Gosto de te falar de amor, - pela expressão
De amor que há nos teus olhos quando assim te falo,
- por tudo o que teus gestos pródigos darão
Na embriaguez do segundo eterno em que me calo...

Gosto de te falar de amor, - nesta certeza
De que gostas também que te fale de amor...
- És a terra que vive! – e eu sou a correnteza
Que canta e que fecunda a terra e a enche de flor!”
Poema de J. G. de Araújo Jorge, do livro ”Eterno Motivo”.