08/12/2009

Nossa cama


Nossa cama

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Olho nossa cama. Palco vazio

sem o drama, sem a comédia,

do nosso amor.

A nossa cama branca,

branca página, em silêncio,

de onde tudo se apagou...


(Meu Deus! quem poderia ler aquelas ânsias, aqueles gemidos,

aqueles carinhos

que a mão do tempo raspou, como nos velhos

pergaminhos?...)


A nossa cama

imensa, como a tua ausência,

tão ampla, tão lisa, tão branca, tão simplesmente cama,

e era, entretanto, um mundo,

de anseios, de viagens, de prazer,

- oceano, que teve ondas e gritos encapelados,

nele nos debatemos tanta vez como náufragos

a nadar... e a morrer...


Olho a nossa cama, palco vazio,

em nosso quarto, - teatro fechado –

que não se reabrirá nunca mais...


Nossa cama, apenas cama, nada mais que cama

alva cama, em sua solidão

em seu alvor...


Nossa cama

- campa (sem inscrição)

do nosso amor.


( Poema de J. G. de Araujo Jorge,

do livro – Quatro Damas – 1965
Image: gettyimages.com)

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