Sinto-me, sem sentir, todo abrasado 
no rigoroso fogo que me alenta; 
o mal que me consome me sustenta; 
o bem que me entretém me dá cuidado. 
Ando sem me mover, falo calado; 
o que mais perto vejo se me ausenta, 
e o que estou sem ver mais me atormenta; 
alegro-me de ver-me atormentado. 
Choro no mesmo ponto em que me rio; 
no mor risco que me anima a confiança; 
do que menos se espera estou mais certo. 
Mas se de confiado desconfio, 
é porque, entre os receios da mudança, 
ando perdido em mim como em deserto. 
Antonio Barbosa Bacelar 
Século XVIII 

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