22/11/2010

A tua voz fala amorosa...

Qual é a tarde por achar
Em que teremos todos razão
E respiraremos o bom ar
Da alameda sendo verão,

Ou, sendo inverno, baste 'star
Ao pé do sossego ou do fogão?
Qual é a tarde por voltar?
Essa tarde houve, e agora não.

Qual é a mão cariciosa
Que há de ser enfermeira minha -
Sem doenças minha vida ousa -
Oh, essa mão é morta e osso... 
Só a lembrança me acarinha
O coração com que não posso.

Fernando Pessoa 

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