Dia de chuva,
dia cinzento,
dia de névoa,
dia de vento...
.
Vento que venta,
chuva que chove,
névoa cinzenta
que me comove...
.
Cinza tão fria
que cobre tudo:
alma de um dia
tedioso e mudo.
.
O mar de espumas,
- prata brunida -
tal como em brumas
a minha vida.
.
O céu parece
que vem a mim,
e a chuva desce
mansa, sem fim.
.
Faz bem à alma
esta tristeza
e a doce calma
da natureza.
.
Turva aquarela
à nossa vista,
como uma tela
impressionista.
.
No chão das ruas,
pelos dois lados,
há poças nuas
de olhos pisados..
.
Dançam letreiros
bêbados, frios,
qual marinheiros
sem seus navios.
.
Frios letreiros
piscam nervosos,
quais sinaleiros
de inúteis gozos.
.
Noite de chuva,
noite de vento,
noite viúva,
- pranto e lamento.
.
Vento que venta,
chuva que chove,
névoa cinzenta
que me comove.
.
Chuva morfina
que, assim, tão calma,
tão mansa e fina
chove em minha alma.
***
J. G. de Araújo Jorge
Foto: Liz Guides
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