Talvez não ser,
é ser sem que tu sejas,
sem que vás cortando
o meio-dia com uma
flor azul,
sem que caminhes mais tarde
pela névoa e pelos tijolos,
sem essa luz que levas na mão
que, talvez, outros não verão dourada,
que talvez ninguém
soube que crescia
como a origem vermelha da rosa,
sem que sejas, enfim,
sem que viesses brusca, incitante
conhecer a minha vida,
rajada de roseira,
trigo do vento.
E desde então, sou porque tu és
e desde então és,
sou e somos...
E por amor
serei.. serás... seremos...
***
Pablo Neruda
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