Entre o ser e as coisas 
Onda e amor, onde amor, ando indagando 
ao largo vento e à rocha imperativa, 
e a tudo me arremesso, nesse 
quando amanhece frescor de coisa viva. 
Às almas, não, as almas vão pairando, 
e, esquecendo a lição que já se esquiva, 
tornam amor humor, e vago e brando 
o que é de natureza corrosiva. 
N´água e na pedra amor deixa gravados 
seus hieróglifos e mensagens, suas 
verdades mais secretas e mais nuas. 
E nem os elementos encantados 
sabem do amor que os punge e que é, pungindo, 
uma fogueira a arder no dia findo.
***
Carlos Drummond de Andrade
Entre o ser e as coisas
1951 - CLARO ENIGMA
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