Dispenso o emaranhado de tristeza. 
Jogo a saudade sobre a mesa, 
grudo os desapontos no teto. 
Passo reto, abro alas.
Arrombo portas, devasso salas, 
empurro mágoas pendentes no corredor. 
Recolho um favor que, desprezado, 
jaz no canto, roto e desbotado, 
encosto de um lado um desafeto. 
Abro alas, passo reto.
Banho-me lá fora 
com a gota de lua caída da aurora, 
e lavo minha história.
Quando enxuta, 
divisam-se glórias impolutas. 
Descubro-me mulher, guerreira, artista 
e bato palma.
Abro meus braços, lavo a alma; 
percebo logo ali um sol nascente. 
Meu passo é reto, 
abro alas. 
Sigo em frente.
Flora Figueiredo

Nenhum comentário:
Postar um comentário