29/07/2025
14/07/2025
Tranquilidade (Mário Lago)
Devolve toda a tranquilidade
Toda a felicidade
Que eu te dei e que perdi.
Devolve todos os sonhos loucos
Que eu construí aos poucos
E te ofereci.
Devolve, eu peço, por favor
Aquele imenso amor
Que nos teus braços esqueci.
Devolve, que eu te devolvo ainda
Esta saudade infinda
Que eu tenho de ti.
Que eu te dei e que perdi.
Devolve todos os sonhos loucos
Que eu construí aos poucos
E te ofereci.
Devolve, eu peço, por favor
Aquele imenso amor
Que nos teus braços esqueci.
Devolve, que eu te devolvo ainda
Esta saudade infinda
Que eu tenho de ti.
Mário Lago
13/07/2025
No mistério do sem-fim
No mistério do sem-fim
equilibra-se um planeta.
E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta
Cecília Meireles
12/07/2025
Ainda que mal... (Carlos Drummond de Andrade)
Ainda que mal pergunte,
ainda que mal respondas;ainda que mal te entenda,
ainda que mal repitas;
ainda que mal insista,
ainda que mal desculpes;
ainda que mal me exprima,
ainda que mal me julgues;
ainda que mal me mostre,
ainda que mal me vejas;
ainda que mal te encare,
ainda que mal te furtes;
ainda que mal te siga,
ainda que mal te voltes;
ainda que mal te ame,
ainda que mal o saibas;
ainda que mal te agarre,
ainda que mal te mates;
ainda assim te pergunto
e me queimando em teu seio,
me salvo e me dano: amor.
(Carlos Drummond de Andrade)
11/07/2025
Congresso internacional do medo
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.
Carlos Drummond de Andrade
Foto: google.
09/07/2025
Dádiva (Lya Luft)
Derrama sobre mim tua esperança de homem,
tanto tempo contida:
planta em meu solo a árvore da renovação,
mais alta que a noite escura.
Larga a solidão, apaga a desesperança,
inventa um novo reino
onde as águas não são naufrágio,
nem o amor desengano.
Vem para esta enseada, onde há ventania
e risco, mas podes ancorar teu coração
depois da longa procura,
para que ele pouse e pulse e brilhe
como a estrela-do-mar em seu fundo
de oceano.
Lya Luft
tanto tempo contida:
planta em meu solo a árvore da renovação,
mais alta que a noite escura.
Larga a solidão, apaga a desesperança,
inventa um novo reino
onde as águas não são naufrágio,
nem o amor desengano.
Vem para esta enseada, onde há ventania
e risco, mas podes ancorar teu coração
depois da longa procura,
para que ele pouse e pulse e brilhe
como a estrela-do-mar em seu fundo
de oceano.
Lya Luft
08/07/2025
Desejo para ti
"Desejo
para ti e para mim
olhos que conseguem discernir
as luzes e os sinais
em nossa escuridão
para ti e para mim
olhos que conseguem discernir
as luzes e os sinais
em nossa escuridão
ouvidos
que conseguem captar
os clamores e as verdades
em meio aos nossos atordoamentos
que conseguem captar
os clamores e as verdades
em meio aos nossos atordoamentos
para ti e para mim
desejo
uma alma
que acolha e absorva
tudo isso
desejo
uma alma
que acolha e absorva
tudo isso
e uma linguagem
que
a partir de sua honestidade
nos liberte
de nossa mudez
e nos permita
expressar
o que nos mantém
prisioneiros".
que
a partir de sua honestidade
nos liberte
de nossa mudez
e nos permita
expressar
o que nos mantém
prisioneiros".
(Margot Bickel)
07/07/2025
Peoma curto (Cecília Meireles)
Sou entre flor e nuvem,
estrela e mar. Por que
havemos de ser unicamente
humanos, limitados em chorar?
Não encontro caminhos fáceis
de andar. Meu rosto vário
desorienta as firmes pedras
que não sabem de água e de ar.
06/07/2025
Saudação da saudade (Alice Ruiz)

Minha saudade
saúda tua ida
mesmo sabendo
que uma vinda
só é possível
noutra vida
Aqui, no reino
do escuro
e do silêncio
minha saudade
absurda e muda
procura às cegas
te trazer à luz
Ali, onde
nem mesmo você
sabe mais
talvez, enfim
nos espere
o esquecimento
Aí, ainda assim
minha saudade
te saúda
e se despede
de mim
Alice Ruiz
04/07/2025
Renúncia

Renúncia
Eu queria uma vida assim com você,
Assim sem relógio e sem dedo em riste,
Sem lei e sem sociedade,
Sem satisfação e sem chau!
Eu queria uma vida assim com você,
Mas, felizmente, meu querer não é tudo
E meu poder é limitado.
Felizmente, minha palavra se esvai
E este papel se amarela.
Felizmente porque o bom é a espera.
A incerteza e o talvez são molas propulsoras;
Porque senão a alegria não teria razão
E o chegar não teria partida.
Eu queria uma vida assim com você,
Sem lenço e sem documento,
Mas, o bacana é o adeus, é a volta,
É o riso depois do choro,
É o hoje sofrido e o amanhã exultante.
O bacana é o crescente, a renúncia,
A noite mal dormida, a consciência,
O bacana é a luta,
É saber que existe o perdão.
É a dúvida do "não quero", mas quero!
Eu queria uma vida assim com você,
Mas dou graças por não ter,
Porque só assim eu posso escrever tudo isto,
Só assim eu posso medir-me,
Posso certificar a limitação humana.
Só assim eu sei que nada sou,
Que vivo capengando,
Carregando o que dá
E caindo com o que não dá.
Só assim eu sei o quanto lhe quero,
quanto posso, mas o quanto não devo!
Assim sem relógio e sem dedo em riste,
Sem lei e sem sociedade,
Sem satisfação e sem chau!
Eu queria uma vida assim com você,
Mas, felizmente, meu querer não é tudo
E meu poder é limitado.
Felizmente, minha palavra se esvai
E este papel se amarela.
Felizmente porque o bom é a espera.
A incerteza e o talvez são molas propulsoras;
Porque senão a alegria não teria razão
E o chegar não teria partida.
Eu queria uma vida assim com você,
Sem lenço e sem documento,
Mas, o bacana é o adeus, é a volta,
É o riso depois do choro,
É o hoje sofrido e o amanhã exultante.
O bacana é o crescente, a renúncia,
A noite mal dormida, a consciência,
O bacana é a luta,
É saber que existe o perdão.
É a dúvida do "não quero", mas quero!
Eu queria uma vida assim com você,
Mas dou graças por não ter,
Porque só assim eu posso escrever tudo isto,
Só assim eu posso medir-me,
Posso certificar a limitação humana.
Só assim eu sei que nada sou,
Que vivo capengando,
Carregando o que dá
E caindo com o que não dá.
Só assim eu sei o quanto lhe quero,
quanto posso, mas o quanto não devo!
(Neimar de Barros)
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