18/08/2015

Colhe o Dia, porque És Ele


 

Uns, com os olhos postos no passado, 

Vêem o que não vêem: outros, fitos 


Os mesmos olhos no futuro, vêem 

O que não pode ver-se. 


Por que tão longe ir pôr o que está perto — 
A segurança nossa? Este é o dia, 
Esta é a hora, este o momento, isto 
É quem somos, e é tudo. 

Perene flui a interminável hora 
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto 
Em que vivemos, morreremos. Colhe 
O dia, porque és ele. 

Ricardo Reis, in "Odes" 
(Heterônimo de Fernando Pessoa)

Foto: Liz Guides

15/08/2015

Atenção ao Sábado

"Acho que sábado é a rosa da semana; sábado de tarde a casa é feita de cortinas ao vento, e alguém despeja um balde de água no terraço; sábado ao vento é a rosa da semana; sábado de manhã, a abelha no quintal, e o vento: uma picada, o rosto inchado, sangue e mel, aguilhão em mim perdido: outras abelhas farejarão e no outro sábado de manhã vou ver se o quintal vai estar cheio de abelhas.
No sábado é que as formigas subiam pela pedra.
Foi num sábado que vi um homem sentado na sombra da calçada comendo de uma cuia de carne-seca e pirão; nós já tínhamos tomado banho.
De tarde a campainha inaugurava ao vento a matinê de cinema: ao vento sábado era a rosa de nossa semana.
Se chovia só eu sabia que era sábado; uma rosa molhada, não é?
No Rio de Janeiro, quando se pensa que a semana vai morrer, com grande esforço metálico a semana se abre em rosa: o carro freia de súbito e, antes do vento espantado poder recomeçar, vejo que é sábado de tarde.
Tem sido sábado, mas já não me perguntam mais.
Mas já peguei as minhas coisas e fui para domingo de manhã. 
Domingo de manhã também é a rosa da semana. 
Não é propriamente rosa que eu quero dizer.
"

Clarice Lispector - Excerto de " Atenção ao sábado"

11/08/2015

People are often unreasonable...


“People are often unreasonable, illogical, and self-centered;
Forgive them anyway.
If you are kind, people may accuse you of selfish, ulterior motives;
Be kind anyway.
If you are successful, you will win some false friends and some true enemies;
Succeed anyway.
If you are honest and frank, people may cheat you;
Be honest and frank anyway.
What you spend years building, someone could destroy overnight;
Build anyway.If you find serenity and happiness, they may be jealous;
Be happy anyway.
The good you do today, people will often forget tomorrow;
Do good anyway.
Give the world the best you have and it may just never be enough;
Give the world the best you have anyway.
You see, in the final analysis, it's all between you and God;
It was never between you and them anyway”.

“Muitas vezes as pessoas são egocêntricas, ilógicas e insensatas.
Perdoe-as assim mesmo.
Se você é gentil, as pessoas podem acusá-lo de egoísta, interesseiro.
Seja gentil assim mesmo.
Se você é um vencedor, terá alguns falsos amigos e alguns inimigos verdadeiros.
Vença assim mesmo.
Se você é honesto e franco, as pessoas podem enganá-lo.
Seja honesto e franco assim mesmo.
Se você tem paz e é feliz, as pessoas podem sentir inveja.
Seja feliz assim mesmo.
O bem que você faz hoje pode ser esquecido amanhã.
Faça o bem assim mesmo.
Dê ao mundo o melhor de você, mas isso pode nunca ser o bastante.
Dê o melhor de você assim mesmo.
Perceba que, no final das contas, é entre você e Deus.
Nunca foi entre você e as outras pessoas!”
Madre Tereza de Calcutá



Crédito da foto: Google.

10/08/2015

Suave caminho...


Assim . . . Ambos assim, no mesmo passo,
iremos percorrendo a mesma estrada;
tu - no meu braço trêmulo amparada,
eu - amparado no teu lindo braço.

Ligados neste arrimo, embora escasso,
venceremos as urzes da jornada . . .
E tu - te sentirás menos cansada,
e eu - menos sentirei o meu cansaço.

E assim, ligados pelos bens supremos,
que para mim o teu carinho trouxe,
placidamente pela Vida iremos

calcando mágoas, afastando espinhos,
como se a escarpa desta Vida fosse
o mais suave de todos os caminhos.


Mário Paranhos Pederneiras (1867/1915 )
Rio de janeiro, Estado da Guanabara. 
in: 
"Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou"
  J.G . de  Araujo Jorge - 1a ed.   1963

08/08/2015

O Milagre (The Miracle, 1959, 121 min)







Na Espanha no início do séc. 19, Teresa (Carroll Baker) é uma noviça que desiste de se ordenar, para procurar por um oficial inglês, o capitão Michael Stuart (Roger Moore) a quem ela ama, e se torna uma cigana conhecida, cantora e cortesã, envolvendo-se também com o cigano Guiod (Vittorio Gasmann). Uma santa toma o seu lugar no convento. Dirigido por Irving Rapper.


Minha nota: ****


*Assisti em excelente companhia, há algumas décadas.

06/08/2015

“Olhai os lírios do campo”


Andei lendo, há algum tempo ***, um livro do Érico Veríssimo, um dos meus autores preferidos. O nome é “Olhai os lírios do campo”, uma história de amor entre dois médicos, mas a ambição de Eugênio (um menino pobre e humilhado) não deixa que este amor se concretize. Quando a amada dele, Olívia, está próxima da morte, escreve uma carta – uma linda e comovente carta, e acho que dá para tirarmos muitos ensinamentos.

“Estive pensando muito na fúria cega com que os homens se atiram à caça do dinheiro. É essa a causa principal dos dramas, das injustiças, da incompreensão da nossa época. Eles esquecem o que têm de mais humano e sacrificam o que a vida lhes oferece de melhor: as relações de criatura para criatura.

De que serve construir arranha-céus se não há mais almas humanas para morar neles?Quero que abra os olhos, Eugênio, que acorde enquanto é tempo. Peço-te que pegues a minha Bíblia que está na estante de livros, perto do rádio, leias apenas o Sermão da Montanha. Não te será difícil achar, pois a página está marcada com uma tira de papel. Os homens deviam ler e meditar esse trecho, principalmente no ponto em que Jesus nos fala dos lírios do campo que não trabalham nem fiam, e no entanto, nem Salomão em toda sua glória jamais se vestiu como um deles. Está claro que não devemos tomar as parábolas de Cristo ao pé da letra e ficar deitados à espera de que tudo nos caia do céu. É indispensável trabalhar, pois um mundo de criaturas passivas seria também triste e sem beleza. Precisamos, entretanto, dar um sentido humano às nossas construções. E, quando o amor ao dinheiro, ao sucesso nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do céu.

Não penses que estou fazendo o elogio do puro espírito contemplativo e da renúncia, ou que ache que o povo devia viver narcotizado pela esperança da felicidade na “outra vida”. Há na terra um grande trabalho a realizar. É tarefa para seres fortes, para corações corajosos. Não podemos cruzar os braços enquanto os aproveitadores sem escrúpulos engendram os monopólios ambiciosos, as guerras e as intrigas cruéis. Temos de fazer-lhes frente. É indispensável que conquistemos este mundo, não com as armas do ódio e da violência e sim com as do amor e da persuasão. Considera a vida de Jesus. Ele foi antes de tudo um homem de ação e não um puro contemplativo.

Quando falo em conquista, quero dizer a conquista duma situação decente para todas as criaturas humanas, a conquista da paz digna, através do espírito de cooperação.
E quando falo em aceitar a vida não me refiro à aceitação resignada e passiva de todas as desigualdades, malvadezas, absurdos e misérias do mundo. Refiro-me, sim, à aceitação da luta necessária, do sofrimento que essa luta nos trará, das horas amargas a que ela forçosamente nos há de levar. Precisamos, portanto, de criaturas de boa vontade.”
 
 
***29/01/1975 - Anotações no meu diário.