07/04/2010

A casa das palavras


A casa das palavras




É de palavras



a casa que teimosamente



construo ao longo destes anos



que se arrastam sob meus pés



cansados







Há nela cômodos de palavras inúteis,



algumas que insisti em dizer tantas vezes



e nunca me levaram a nada;







Há na minha casa cômodos de palavras



que evitei nestes anos todos



porque sequer me consolaram



quando os dias se vestiram de dor.







É de palavras



a casa que construo pacientemente



enquanto os anos se lançam



estrada afora



e se fazem saudade que dói



feito a palavra nunca mais.







Mas há nela um cômodo especial



onde guardo as palavras mais belas:



as primeiras do meu filho,



algumas que ficaram dos amigos



a quem a estrada se fez caminho de ida



por primeiro,



as últimas do meu pai



e algumas juras de amor



que ainda aquecem as minhas noites



de poucas palavras.







© Ademir Antonio Bacca



In: O Relógio de Alice

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